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Azeite: O segredo dos segredos da sua alma | ||
Por Simon Jacobson | ||
Chanucá é a história do azeite.
Apesar das batalhas milagrosamente vencidas pelos macabeus, mais fracos e em menor número contra o mais forte e mais numeroso exército greco-sírio, o Talmud, em sua descrição do milagre de Chanucá, concentra-se tão somente no milagre do azeite e praticamente ignora o milagre militar.
“O que é Chanucá?” pergunta o Talmud. “Sobre qual milagre foi
estabelecido? Quando os gregos entraram no Santuário, contaminaram todo o
azeite. Então, quando a família real hasmoneana os sobrepujou e foi vitoriosa
sobre eles, procuraram e encontraram um única ânfora de azeite puro que estava
selado com o selo do Sumo Sacerdote suficiente para acender a Menorá por um só
dia. Um milagre aconteceu, e eles acenderam a Menorá com este azeite durante
oito dias. No ano seguinte, estabeleceram estes dias como festivos e de louvor e
agradecimento a D’us.”
Nós, porém, celebramos Chanucá comemorando o milagre do azeite e
acendendo a Menorá por oito dias, de preferência usando azeite de oliva porque é
facilmente atraído para o pavio, sua luz arde claramente, e o milagre de Chanucá
aconteceu com azeite de oliva.
Por que o foco sobre o azeite? Alguém poderia argumentar que
descobrir o azeite foi acidental enquanto que o milagre principal foi o de
vencer a batalha contra o inimigo. Se aquela vitória não tivesse ocorrido, a
descoberta subsequente da ânfora de azeite teria sido impossível. Por que então
o milagre do azeite é o aspecto que define Chanucá, sem menção das batalhas
vencidas ao contrário, por exemplo, de Pêssach, quando celebramos e recriamos
a vitória sobre os egípcios?
O Chassidismo explica que o milagre essencial de Chanucá foi uma
vitória especial. Os greco-sírios não queriam aniquilar fisicamente os judeus
(como Haman fez no tempo de Purim); eles queriam matar suas almas. Os gregos não
se opunham à Torá como um compêndio de sabedoria humana e mitsvot como um
conjunto de regras éticas; eles procuravam “fazê-los esquecer Tua Torá e
fazê-los violar os decretos da Tua vontade” divorciar a Torá e as mitsvot de
sua natureza espiritual e Divina. A batalha foi lutada não por qualquer fim
material ou político, mas pela própria alma do Judaísmo. Assim o Talmud define
“O que é Chanucá?” por seu milagre espiritual a descoberta do azeite puro e
não profanado e o acendimento da luz Divina que emanava do Templo Sagrado.
Mesmo quando os poderosos materialistas greco-sírios profanaram
todos os objetos sagrados, mesmo quando todas as fontes de luz pura (do puro
azeite de oliva) se foram, pelo menos um recipiente de pureza permaneceu, e
reviveu a alma. A poderosa qualidade da luz até uma quantidade mínima
prevaleceu sobre as formas mais poderosas de escuridão.
Isso explica o significado das chamas. Mas por que
especificamente azeite?
O Midrash oferece a seguinte parábola para explicar o uso do
azeite de oliva para a Menorá no Templo: “é comparável a um rei cujas legiões se
rebelaram contra ele. No entanto, uma das legiões permaneceu leal e não se
rebelou. O rei disse: é desta legião que não tinha se rebelado que escolherei
meus legisladores e governantes. Assim D’us disse: Esta oliveira trouxe luz ao
mundo no tempo de Nôach, pois vimos ‘a pomba voltou… e tinha um ramo de oliveira
no bico.’” (Vayicrá Raba 31:10).
Isso explica o significado das chamas. Mas por que
especificamente azeite?
Um comentarista explica (Radal sobre Midrash ibid.) que a
corrupção precedendo o grande Dilúvio não afetou somente o homem, mas também o
reino animal e o vegetal. Diferentes espécies animais tentaram se cruzar;
plantas tentaram se enxertar com outras. Somente o galho da oliveira resistiu a
todas as formas de enxerto. É assim considerada “a legião que não se rebelou.”
Permaneceu pura. Como continuou fiel a D’us, a oliveira foi escolhida para ser o
sinal de renascimento e renovação após o Dilúvio. Foi escolhida para ser a fonte
de luz do local mais sagrado neste mundo, e a fonte de luz para as gerações
vindouras.
Mas o que há no azeite de oliva que o imuniza contra forças
corruptoras? E como acessamos este poder?
As Propriedades do AzeiteA natureza material
de toda entidade física evolui de sua raiz espiritual. Uma análise das
propriedades do azeite pode ajudar a esclarecer sua poderosa importância
espiritual.
O Talmud propõe a seguinte questão: Se uma impureza tocar azeite
flutuando sobre o vinho, isso contamina o vinho também? Duas opiniões são
oferecidas: Os Rabinos afirmam que o azeite é hidrofóbico por natureza e
portanto não é considerado conectado com o vinho, assim somente o azeite é
contaminado, não o vinho. Rabi Yochanan ben Nuri discorda. Ele afirma que o
azeite está conectado ao vinho, e portanto contamina o vinho também (Mishná
Tevul Yom 2:5).
Sua discordância aplica-se ainda a uma outra lei. No Shabat somos
proibidos de mover um objeto de uma área privada até uma área pública (ou
vice-versa). A proibição exige um processo de duas etapas: levantar (akira) e
colocar (hanocho) erguer o objeto do local onde está e colocá-lo em outro
lugar. A questão é essa: se o azeite está flutuando por cima do vinho, é
considerado repousando sobre o vinho e assim proibido de ser erguido e colocado
em outro lugar. Rabi Yochanan ben Nuri afirma que o azeite está conectado ao
vinho, e portanto está repousando sobre ele. Os Rabinos discordam e argumentam
que o azeite não está conectado, mas completamente separado do vinho. É como se
o azeite estivesse flutuando, e assim não é considerado como levantado do vinho
(Talmud Shabat 5b). A regra definitiva (Halachá) segue os Rabinos, que o azeite
está completamente separado do vinho.
Rabi Dovber de Lubavitch, segundo Rebe de Chabad (filho e
sucessor de Rabi Shneur Zalman de Liadi) em sua profunda obra :Imrei Biná”
(Shaar há’Kriyat Shma cap. 52-56) se pergunta se a base do argumento está no
primeiro lugar. Não é uma questão de observação empírica,” afirma ele, “se os
dois se mesclam juntos ou se permanecem completamente separados. Podemos testar
e ver se o azeite e o vinho se misturaram de alguma forma tanto em substância
quanto em sabor. Portanto, o que define o debate entre os Rabinos e Rabi
Yochanan ben Nuri?”
Rabi Dovber explica que a natureza do azeite pode ser entendida
somente depois de analisarmos a personalidade espiritual do azeite de oliva.
Três Dimensões da AlmaUm nivel mais elevado
o azeite essencial, o inconsciente que permanece destacado e acima de todos os
níveis sobre os quais repousa.
A alma consiste de três dimensões: o consciente, o inconsciente e
o não-inconsciente. O consciente divide-se nas faculdades reveladas biológicas,
emocionais e intelectuais correspondendo ao nefesh, ruach e neshamá (os
primeiros três dos cinco nomes/níveis da alma). O inconsciente é chaya a
dimensão transcendente, que permanece não revelada, mas pode aflorar através de
esforço exercido. Finalmente cada alma contém o in-inconsciente, yechida, que
desafia qualquer forma de expressão.
O in-inconsciente sempre permanece essencialmente incognoscível.
É o paralelo psicológico do estado semelhante ao quantum da probabilidade
fundamental, no âmago do princípio da incerteza de Heisenberg.
O que distingue o nível do in-inconsciente do inconsciente
“normal” é que o inconsciente está oculto, mas pode ser revelado. Nas palavras
de Carl Jung: “Até você tornar consciente o inconsciente, ele dirigirá sua vida
e você o chamará de destino.” Isso pode ser verdadeiro no nível do inconsciente,
porém o nível do in-inconsciente é fundamentalmente impossível de revelar. Ambos
estão ocultos, porém o último é chamado “ocultação sem substância,” ou “o
incinsciente indefinido.”
Um exemplo dos dois é a diferença entre um carvão quente e uma
pedra de isqueiro. O fogo no carvão está oculto, mas existe dentro do carvão.
Tudo que você precisa fazer é abanar o carvão e a chama vai surgir. Numa pedra
de isqueiro o fogo físico não existe. Porém, esfregando-a com força, você
consegue liberar sua centelha.
Estas três dimensões o consciente e os dois níveis do
inconsciente estão incorporados na diferença entre pão, vinho e azeite: pão,
alimento convencional, manifesta as faculdades reveladas. O vinho, oculto nas
uvas, reflete o inconsciente que é revelado até por uma leve pressão sobre as
uvas. O azeite de oliva representa o in-inconsciente, que está muito mais oculto
na azeitona e portanto exige muito mais pressão para liberar, que o vinho na
uva. Nas palavras do Zohar: o vinho é o nível dos “segredos” (um segredo que
pode ser revelado); o azeite é o nível do “segredo dos segredos” tão secreto que
está oculto até dos segredos, e é fundamentalmente secreto e indefinível.
O azeite em si também tem duas dimensões: uma que interage com o
estado inconsciente do “vinho”, e causa algum impacto sobre o inconsciente. Um
nivel mais elevado o azeite essencial, o inconsciente que permanece destacado
e acima de todos os níveis sobre os quais repousa. Estas duas dimensões são
expressas no paradoxo óbvio do azeite: por um lado, o azeite satura tudo aquilo
com que entra em contato. Por outro lado, sobe e permanece acima de qualquer
líquido com que entra em contato.
Rabi Dovber explica que as duas opiniões de Rabi Yochanan ben
Nuri e dos Rabinos, se o azeite é conectado ou desconectado ao vinho por baixo
dele, refletem as duas dimensões do azeite: Rabi Yochanan fala sobre a dimensão
do “azeite” que entra em contato e afeta o “vinho”. Os Rabinos discutem o
“azeite” essencial, que sempre permanece desconetado do “vinho”.
A Verdadeira História de ChanucáAgora
podemos entender por que o azeite desempenha um papel tão importante na
experiência de Chanucá: o azeite representa a conexão suprema, essencial, da
alma com o Divino, que é incorruptível e intocado por qualquer impureza. Ele
sobe e flutua acima de toda a existência.
Portanto, tem o poder de transcender a escuridão o desafio
materialista dos gregos, sua profanação do Templo Sagrado e do azeite sagrado.
Como “naqueles dias” também hoje, “nesta época”: Até quando nossas faculdades
conscientes e inconscientes possam estar temporariamente comprometidas, uma
ânfora de “puro zeite” sempre permanece, e é como uma “chama-piloto” que nos dá
o poder de reacender o inconsciente e o consciente que possa ter se extinguido
(ou estar oculto) por algum tempo.
É reconfortante saber que apesar de toda a escuridão ao nosso
redor, dos sofrimentos e perdas, da noite escura e das ruas hostis uma chama
calma, pequena, permanece acesa, intocada...
E a luz que emerge das trevas é a mais forte de todas. Como
escreve o Rambam (início da Parashat Behaalotechá), que “estas chamas jamais
serão extintas” (ao contrário da Menorá do Templo que deixou de brilhar após a
destruição do Templo). Luz que prevalece após ser desafiada pela escuridão
demonstra ser uma luz que jamais pode morrer.
Chanucá é a celebração do azeite o azeite interior que
permanece dentro de nossa alma puro e inocente, intocado e não conspurcado por
todas as experiências da vida, mesmo as mais difíceis. O azeite puro de sua alma
flutua, carrega seu segredo mais secreto a parte de você que transcende todas
as formas de expressão. O verdadeiro você.
Em todos os oito dias de Chanucá, estas luzes são secretas, e não
temos permissão de fazer uso delas somente contemplá-las, a fim de agradecer e
louvar Teu Grande Nome por Teus milagres, por Tuas maravilhas e por Tua
salvação.
“Não podemos fazer uso delas” porque elas estão além, e
permanecem intocadas pelas necessidades humanas, até as nossas. Porém temos
permissão de olhar para elas…
Chanucá conta o segredo dos segredos de sua alma. É reconfortante
saber que apesar de toda a escuridão ao nosso redor, apesar dos sofrimentos e
perdas que passamos, apesar da noite escura e das ruas hostis uma chama calma,
pequena, permanece acesa, intocada, não revelada pairando acima, mal tocando,
porém firmemente em contato com nossa vida cotidiana.
Esta pode ser a mensagem mais poderosa que jamais chegaremos a
ouvir: nossa alma tem um segredo. Um segredo dos segredos. Nada, absolutamente
nada, pode tocá-lo, nem diminuir ou ferir o azeite secreto de nossa alma. Em
Chanucá o segredo de sua alma é revelado, temos o poder de tocar o intocável, ou
ainda melhor; de sermos tocados pelo intocável.
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Palavras de conhecimento, é um blog com o único intuito de comparilhar a Palavra de Deus.
domingo, 30 de dezembro de 2012
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